Dieese: número de pessoas ocupadas aumenta, mas em mercado de trabalho precarizado
Análise do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no boletim Emprego em pauta, de setembro de 2022, mostra que o número de pessoas com alguma ocupação aumentou, após a fase mais aguda da pandemia de Covid-19. No entanto, a expansão ocorre em posições que exigem menos qualificação formal e o mercado de trabalho mostra-se em processo de precarização, tanto no estabelecimento de vínculos empregatícios, sem proteção trabalhista ou social, quanto pela geração de empregos “pouco complexos”, em posições que exigem menos escolaridade, e perda de rendimentos.
Entre os que possuem ensino superior, houve aumento de 749 mil ocupados, mas 589 mil (78,6%) desses trabalhadores conseguiram inserção em ocupações não típicas.
Passada a fase mais aguda da pandemia, após mais de dois anos, o número de brasileiros ocupados superou o período anterior à crise sanitária, ainda que a economia brasileira caminhe a passos lentos. No segundo trimestre de 2022, havia 98,3 milhões de pessoas ocupadas no país, número bem superior aos 94,2 milhões do segundo trimestre de 2019 e aos 89,4 milhões do mesmo período de 2021.
Nesses últimos 12 meses, a ocupação tem aumentado principalmente em posições que requerem menos escolaridade e que pagam menores salários, o que revela um mercado de trabalho empobrecido e com poucas perspectivas de ascensão para os trabalhadores.
Alta é menor em atividades que exigem ensino superior
O número de pessoas ocupadas cresceu 9,9% entre o segundo trimestre de 2021 e o de 2022. O grupamento ocupacional com a maior expansão foi o de trabalhadores dos serviços, vendedores dos comércios e mercados (17,9%), seguido pelos operadores de instalações e máquinas e montadores (15,8%).
A ocupação cresceu menos entre diretores e gerentes (3,0%) e profissionais das ciências e intelectuais (3,4%), que, em geral, são atividades que exigem diploma de nível superior.
Crescimento no ensino superior ocorre em áreas não típicas
Proporcionalmente, a ocupação cresceu com mais intensidade entre as pessoas com menor escolaridade, como aqueles sem instrução e com menos de 1 ano de estudo (31,4%), e entre os que possuem ensino médio incompleto ou equivalente (14,0%). Já entre aqueles com ensino superior completo, a quantidade de ocupados aumentou somente 3,6%, enquanto entre os que têm superior incompleto ou equivalente, ampliou-se em 6,1%.
Entre os trabalhadores com superior completo, o crescimento das ocupações consideradas típicas (1,3%), como diretores e gerentes ou profissionais das ciências e intelectuais, foi bem inferior ao das não típicas (6,7%). Ou seja, o aumento tem sido puxado por ocupações que não requerem formação superior.
No 2º trimestre de 2022, o número de ocupados com ensino superior teve acréscimo de 749 mil, na comparação com o ano anterior. Entretanto, nas ocupações típicas para pessoas formadas, o aumento foi de apenas 160 mil. Os demais 589 mil trabalhadores (78,6%) foram parar em funções não típicas.
Entre as ocupações não típicas para profissionais com ensino superior, chama atenção o crescimento de 16,4% no número de balconistas e vendedores de lojas e de 6,8% no de vendedores a domicílio. Juntas, essas duas ocupações englobavam 567 mil pessoas com ensino superior completo.
Com relação ao rendimento médio, os ocupados com superior completo foram os que tiveram a maior perda (-5,6%), seguidos por aqueles com ensino médio incompleto ou equivalente (-1,8%). Os ocupados sem instrução e com menos de um ano de estudo tiveram aumento do rendimento médio do trabalho (3,2%), assim como aqueles com ensino fundamental completo ou equivalente (0,8%).
Entre aqueles que possuíam ensino superior completo, o rendimento médio aumentou somente em três grupos ocupacionais, enquanto em outros sete, houve redução. Destacam-se, entre as principais quedas, as ocorridas para membros das forças armadas, policiais e bombeiros militares (-7,2%), profissionais das ciências e intelectuais (-6,9%) e diretores e gerentes (-4,9%).
A ocupação, portanto, tem crescido, apesar da retomada lenta da atividade econômica pós-pandemia, mas a expansão ocorre em posições que exigem menos qualificação formal. O mercado de trabalho vai se precarizando não somente no estabelecimento de vínculos de trabalho sem proteção trabalhista ou social, mas também por meio da geração de empregos pouco complexos e pela perda de rendimentos. O aumento da escolarização da população, visto na última década, tem sido pouco aproveitado pelo mercado de trabalho nessa retomada da atividade econômica.