Relatório do Ipcc prova “o fracasso da liderança global sobre o clima”
Publicado no site ONU BR
Um relatório lançado, em 28/02/2022, pelo Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática, Ipcc, mostra que “o colapso do ecossistema, a extinção de espécies, ondas de calor fatais e enchentes estão entre os perigos inevitáveis” que o mundo enfrentará nos próximos 20 anos devido ao aquecimento global.
O presidente do Ipcc, Hoesung Lee, declarou que o relatório faz um alerta sobre “as consequências da falta de ação”, mostrando como a mudança climática já está afetando bilhões de vidas pelo mundo. Este é o segundo de uma série de três documentos do tipo produzidos pelos cientistas da ONU especializados em clima.
Derrota para a mudança climática
O relatório é lançado cerca de 100 dias depois da COP26, quando os líderes mundiais reuniram-se em Glasgow, na Escócia, e concordaram em aumentar as ações para limitar o aquecimento global a 1.5° Celsius e assim, evitar os piores impactos da mudança climática.
O secretário-geral da ONU declarou que o novo relatório do Ipcc traz evidências “nunca vistas”, revelando como as pessoas e o planeta estão sendo derrotados pela mudança climática”.
António Guterres afirmou que o “relatório do Ipcc é um atlas do sofrimento humano e uma prova do fracasso da liderança sobre o clima”. Segundo ele, quase metade da humanidade está vivendo na zona de perigo e “muitos ecossistemas já estão agora num ponto sem retorno”.
Apelo ao fim dos combustíveis fósseis
O chefe da ONU explicou que a poluição por dióxido de carbono está lançando as pessoas mais vulneráveis do mundo para a destruição. Ele lembrou que é essencial limitar as emissões de gases em 45% até 2030 e atingir emissões zero até 2050.
António Guterres explicou que com os acordos atuais, as emissões globais poderão subir quase 14% na próxima década, o que será uma “catástrofe, destruindo qualquer chance de manter viva a meta de 1.5° C”.
O secretário-geral destacou ainda que o relatório do Ipcc mostra como “carvão e outros combustíveis fósseis estão engolindo a humanidade”. Ele pediu aos países do G-20, que inclui o Brasil, para deixarem de financiar o carvão e dirigiu um apelo direto às empresas gigantes de gás e de petróleo: “Vocês não podem afirmar serem ‘verdes’ quando seus planos e projetos minam o acordo para emissões net zero até 2050 e enquanto ignoram que grandes cortes de emissões precisam ocorrer nesta década”.
Mais investimentos em adaptação
António Guterres lembrou que este é o momento de acelerar a “transição para energias renováveis”, afirmando que os combustíveis fósseis “são o fim da linha para o planeta, a humanidade e para as economias”.
O relatório do Ipcc traz ainda novidades sobre investimentos no setor da adaptação climática. Guterres quer que 50% de todo o financiamento para o clima seja usado na adaptação, mencionando obstáculos para que países insulares e nações menos desenvolvidas consigam o dinheiro necessário para salvar vidas e meios de subsistência.
O chefe da ONU acredita que atrasos “significam mortes” e mencionou que as pessoas em todo o mundo, incluindo ele próprio, estão “ansiosas e irritadas” e por isso o momento é de ação.
O estudo do Ipcc mostra que o aumento das ondas de calor, das secas e das enchentes “já está ultrapassando a capacidade de tolerância das plantas e dos animais”, causando mortalidade em massa em várias espécies de árvores e de corais.
Pessoas na África, na Ásia e na América do Sul já foram expostas à falta d’água e à insegurança alimentar. Para evitar mais perdas de vida e de biodiversidade, é essencial acelerar ações de adaptação à mudança climática e cortar, rapidamente, as emissões de gases de efeito estufa.
Ecossistemas resilientes
Segundo os cientistas do Ipcc, ecossistemas saudáveis são mais resilientes à mudança climática e conseguem fornecer água potável e alimentos. Por isso, restaurar a degradação e conservar de 30% a 50% das terras do planeta, habitats oceânicos e água doce ajudam a capacidade da natureza em absorver e armazenar carbono.
O relatório mostra que governos, setor privado e sociedade civil precisam cooperar para combater todos esses desafios, incluindo uso insustentável de recursos naturais, desigualdades sociais e aumento da urbanização, já que a mudança climática interage com essas tendências globais.
Ao mesmo tempo, o Ipcc nota que as cidades fornecem oportunidades para ação climática, com “edifícios verdes, fontes seguras de água potável, energias renováveis e transportes sustentáveis”, o que poderá criar sociedades mais justas e inclusivas.
O vice-presidente do Grupo de Trabalho II do Ipcc, que produziu o relatório, Hans-Otto Portner, afirmou que “a evidência científica é inequívoca: a mudança climática ameaça o bem-estar humano e a saúde do planeta”. Segundo ele, “qualquer atraso para garantir ação global resultará na perda de uma janela que já está se fechando rapidamente para garantir um futuro habitável”.
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