Mudanças climáticas exigem repensar o trabalho
Não é mais possível descolar o trabalho da ecologia. A forma como iremos organizar o trabalho humano nos próximos cem anos pode ser um fator de aceleramento ou retardamento da destruição das condições de habitabilidade na Terra, afirmam Cesar Sanson, professor na área da Sociologia do Trabalho na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, e André Langer, professor na Faculdade Vicentina – FAVI e analista social no CEPAT, em texto publicado no site IHU Online.
“É pior, muito pior do que você imagina”, alertava há cinco anos David Wallace-Wells (2). O planeta terra arde em chamas. Quando não são chamas, são secas prolongadas, chuvas torrenciais, enchentes e furacões. O Brasil é a demonstração inequívoca da radical mudança climática. Rio Grande do Sul debaixo da água, Pantanal secando, Amazônia em chamas, Cerrado e Caatinga em escalada crescente de desertificação.
A ministra Marina Silva afirmou que o Brasil pode perder o Pantanal até o final deste século e o experimentado e mundialmente respeitado climatologista Carlos Nobre afirmou: “o mundo pode não ter mais volta e isso me apavora”.
A destruição das condições de habitabilidade na Terra deixou de ser uma possibilidade e se transforma numa realidade cada vez mais próxima. O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC de 2023 destaca que a temperatura global da superfície aumentou mais rapidamente desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos durante os últimos 2000 anos. O Dia da Sobrecarga da Terra – a data do ano em que a demanda da humanidade por recursos naturais supera a capacidade do planeta de produzir ou renovar esses recursos – em 2024 aconteceu em 1º de agosto. Atualmente, para atender aos padrões de consumo seria necessário 1.7 planeta Terra.
A razão do impasse que vivemos encontra-se no modelo de desenvolvimento econômico implantado, especialmente, ao longo dos últimos dois séculos baseado no paradigma do crescimento ilimitado, na ideia de progresso infinito e na concepção de que os recursos naturais seriam inesgotáveis e de que a nossa intervenção sobre a natureza se daria de maneira neutra. A pilhagem de recursos naturais está associada a uma engrenagem que não cessa: consumo desenfreado que demanda aumento de produção, que exige maior extração de recursos naturais.
O aceleramento da crise ecológica pode ser datado. É a partir da Revolução Industrial que a destruição do meio ambiente ganha escala. E é particularmente naquilo que se denominou de fordismo, a forma acabada do triunfo da Revolução Industrial que a pilhagem da natureza aumentou consideravelmente. É preciso reconhecer, portanto, que a sociedade do trabalho manifesta no fordismo contribuiu enormemente para o agravamento das mudanças climáticas.
Assim como Bruno Latour afirma que “o Novo Regime Climático impõe uma nova forma de fazer política”, sugerimos que o Novo Regime Climático também exige uma nova forma de pensar e organizar o trabalho humano. Precisamos nos afastar da ideia do trabalho transformador da natureza para a ideia de trabalho como cuidador da natureza, portanto, uma forma mais amigável com a Terra.
Uma metodologia para enfrentar a crise ecológica
Considerando que a crise ecológica não pode ser criticamente compreendida nem politicamente enfrentada sem uma metodologia adequada, partimos da metodologia do paradigma da complexidade proposto por Edgar Morin (3) e o seu princípio da “ecologia da ação”. O sociólogo francês sugere que os “nossos problemas não podem mais ser concebidos como separados uns dos outros”. Trata-se de perceber que “não só a parte está no todo, mas também que o todo está na parte”. Tudo está interligado, entrelaçado, e há uma interdependência entre as crises.
Nessa perspectiva, avaliamos que o princípio da “ecologia da ação” de Edgar Morin é um princípio orientador para o agir na sociedade atual diante do imperativo da crise climática. O que Morin quer dizer é que toda ação implica em efeitos nem sempre controláveis e que mesmo uma ação realizada com o melhor dos propósitos, pode fugir ao controle e voltar-se contra o objetivo inicial.
O princípio da “ecologia da ação” destaca que doravante toda e qualquer ação deve estar subordinada ao imperativo da crise ecológica, ou seja, faz-se necessário que tenhamos presente o fato de que tudo aquilo que realizamos tem consequências e sob esta perspectiva urge presumirmos os possíveis efeitos colaterais da nossa ação.
As atividades que podem ser geradas com o cuidado da natureza são numerosas. Dessa forma, milhares poderiam ser incluídos e passariam a receber uma renda provendo o seu sustento e, ao mesmo tempo, preservando o ambiente
A “ecologia da ação” vale ainda mais para as decisões institucionais, particularmente àquelas do mundo dos negócios e do Estado que possuem repercussão maior sobre o conjunto dos humanos e dos não humanos. A “ecologia da ação” questiona o atual paradigma civilizacional produtivista-consumista e remete para a necessidade de outra economia, outra política, outro estilo de vida, outras relações sociais tendo como eixo gravitacional o ambiente.
Faz-se necessário, portanto, outro paradigma que rompa com a racionalidade técnico-instrumental instaurada pela modernidade. Consideramos aqui que no espectro político, determinada esquerda, assim como a direita, não estão à altura da tarefa exigida. Assim como o liberalismo, certa leitura dogmática do marxismo repousa sobre a noção de um progresso infinito. Ambos repetem exaustivamente o mantra do crescimento. Até mesmo parcela significativa do movimento social é tributária de um jeito de pensar e agir preso às categorias da sociedade industrial, daí a dificuldade de assimilação em sua agenda de temas que estão para além dessa sociedade.
Fordismo: o coroamento da sociedade do trabalho e da pilhagem da natureza
O fordismo correspondeu aos anos dourados do capitalismo e, mais do que um simples modo de organizar a produção, como percebe Weber, correspondeu também a um modo de vida, como também destaca Gramsci em O americanismo e o fordismo. De acordo com Gramsci o novo método de produção nascido nos Estados Unidos determinou uma nova ordem, uma nova cultura e um novo modo de vida. Com o fordismo a sociedade se tornou fábrica, afirmam Negri e Hardt.
O fordismo, por sua vez, será ainda fortalecido pelo keynesianismo na medida em que o primeiro se propõe a estimular a produção, o consumo e o emprego e, o segundo, sugere para a supressão dos ciclos de depressão da economia, a pronta intervenção do Estado através de vigorosos investimentos. Fordismo e keynesianismo imbricados elevaram a patamares nunca vistos a pilhagem da natureza. Posteriormente, o liberalismo completou o serviço ao retirar as trancas das legislações restritivas à destruição do ambiente. Novamente, o Brasil é um caso elucidativo de como as orientações econômicas de corte liberal não apenas ignoraram a proteção ambiental como ampliaram a agressão à natureza.
A obsessão pelas mercadorias e a crescente demanda de consumo fizeram com que a sociedade produtiva se tornasse sedenta por matrizes energéticas. Se no começo a máquina produtiva era alimentada pelos combustíveis fósseis – carvão, petróleo, gás – posteriormente se associaram a estas matrizes as gigantescas hidrelétricas, a energia nuclear, os biocombustíveis e agora a energia eólica e solar. Todas estas matrizes produzem impactos ao ambiente, mesmo as consideradas renováveis. Fazendo girar toda esta engrenagem encontra-se o trabalho humano.
Crise do trabalho: uma janela para dialogar com a crise ecológica
À crise ecológica associa-se à crise do trabalho. Essa crise, a do trabalho, entretanto, pode ser uma oportunidade para a mitigação da crise ecológica. O que se quer dizer é que a forma como iremos organizar o trabalho humano nos próximos cem anos pode ser um fator de aceleramento ou retardamento da destruição das condições de habitabilidade da Terra. A crise do trabalho, paradoxalmente, pode colaborar na superação da crise ecológica. Para isso, é preciso ousar. Querer o retorno ao fordismo, sob a perspectiva da crise ecológica não é desejável. A sociedade do labor tal qual se conhecia não retornará mais. Permanecerá como vestígio, mas não como o seu polo dinamizador.
A nova dinâmica da sociedade do trabalho se dará pelo que se tem denominado de capitalismo de plataforma. Algumas características desse novo capitalismo já são evidentes: geração de menos postos de trabalho, eliminação da proteção social – o conjunto de direitos – e pagamento não mais por jornada de tempo de trabalho, mas por produção. O exemplo emblemático do novo mundo do trabalho são os trabalhadores de aplicativos. O chão de fábrica está sendo substituído pelo chão do asfalto. Não há como refutar os efeitos deletérios e regressivos da uberização do trabalho.
As mudanças são significativas: à estabilidade do emprego fordista, assiste-se a intermitência no trabalho; à jornada de trabalho padronizada, assiste-se ao descontrole da jornada em que muitos se veem na condição do sobretrabalho e milhares na condição da subocupação. Ao assalariamento estável, assiste-se a ganhos imprevisíveis e insatisfatórios. Em síntese, instala-se a precarização.
É inegável que sob a perspectiva do que se conhecia caminhamos para trás. Pensar, entretanto, que o pleno emprego pode retornar é improvável. Mais ainda: será desejável tendo em consideração a crise ecológica?
Avançamos a partir daqui em como a crise do trabalho pode ser enfrentada tendo como referência o princípio da ecologia da ação sugerido por Morin.
Considerando, portanto, que não retornaremos ao fordismo e que as condições em que o mesmo emergiu mudaram radicalmente, é preciso, como afirma Gorz “ousar o êxodo da ‘sociedade do trabalho': ela não existe mais e não será mais restabelecida” (4). Por outro lado, em Gorz, racionalidade econômica, trabalho e ecologia estão interligados. Portanto, (re)pensar o trabalho diante da iminente ameaça da destruição planetária pela crise ambiental é urgente. A forma da organização do trabalho pode ser um acelerador dessa crise, porém, pode também contribuir para o seu adiamento, para usar uma expressão de Ailton Krenak (5). A questão não é simples. Há um perigo de que a sugestão de repensar a organização social do trabalho possa ser interpretada como uma legitimação das suas condições de deterioração. Porém, insistir na retomada do fordismo, como sugerem as teses neodesenvolvimentistas, não é a saída, porque se mostra inverossímil.
Ideias para outro mundo do trabalho tendo presente a crise ecológica
O axioma sugerido aqui é não descolar o trabalho da ecologia. Essa ideia é inspirada em Gorz. É inquestionável que o capitalismo ressignificou e resumiu o trabalho ao emprego como afirma o autor. O capitalismo empobreceu a atividade humana, valorizando apenas as atividades monetizadas. As atividades domésticas, por exemplo, foram empurradas para a esfera da reprodução do capital sem pagamento; as atividades do tempo de lazer, vital para a saúde física e mental, nunca foram efetivamente consideradas pelo capital. Todas essas esferas da vida – doméstica e do lazer – envolvem também trabalho. Por que não valorizar de alguma maneira este tipo de trabalho?
Pensemos o cuidado da natureza associado ao trabalho. Tomemos como exemplo o semiárido nordestino brasileiro e o seu bioma da Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro. Segundo Cristina Baldauf, “60% da Caatinga já foi modificada por atividades humanas e cerca de 13% das áreas do semiárido brasileiro podem ser classificadas como semidesérticas”. Um dos principais fatores da degradação, exemplifica, “é a exploração comercial de lenha para alimentar os polos de produção de gesso e cerâmica, bem como para a produção de carvão”. Impacta ainda a caatinga, a agricultura comercial voltada para a exportação e a pecuária em grande escala.
É neste cenário de devastação que inúmeras iniciativas, associando trabalho à preservação da Caatinga, podem ser dinamizadas, muitas delas em curso. Exemplos de organizações que atuam na caatinga mostram que é possível vincular trabalho e renda com preservação. Destaca-se, entre tantas iniciativas, o trabalho desenvolvido pela Articulação do Semiárido – ASA com os quintais das margaridas e do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – Irpaa e sua política de recaatingamento. Essas pequenas iniciativas geram renda para os que vivem na caatinga e auxiliam em sua preservação. Essas ações, entre tantas outras, elevadas a uma escala maior nos dão uma dimensão das possibilidades da viabilidade de conectar trabalho e ecologia.
O exemplo da Caatinga pode ser transportado para cadeias produtivas que produzem grandes danos à natureza. Vamos considerar, por exemplo, o agronegócio e sua escala industrial de impacto ao ambiente, particularmente no bioma do Cerrado e da Amazônia. Como mitigar esses efeitos, reduzindo-os e gerando mais atividades remuneradas revertidas à preservação?
Imaginemos aqui as monoculturas das commodities soja, milho, algodão, cana de açúcar e pecuária que são devastadoras para o ambiente. Essas monoculturas utilizam áreas extensas e esgotam os nutrientes da terra e os mananciais de água através da irrigação. Muitas dessas commodities são responsáveis direta e indiretamente pelo desmatamento do Cerrado e da Amazônia Legal.
Aqui, diferentemente da Caatinga, num primeiro momento, seria necessária a ampliação do quadro de servidores do Estado nas ações de fiscalização. É risível o aparelho do Estado na repressão às agressões ambientais. Milhares de postos de trabalhos poderiam ser criados do sul ao norte do país para essa ação fiscalizadora. Num segundo momento, poder-se-ia pensar em reversão das áreas degradadas através da contratação de trabalhadores. Pessoas pagas pelo Estado e empresas que exploram a região para cuidarem dos territórios degradados. Restauração de nascentes de água, recomposição de matas ciliares, reflorestamento, prática da agrofloresta, ações de preservação da fauna e da flora são algumas atividades que poderiam ser desenvolvidas por estas pessoas.
Ideia similar pode ser transportada das regiões rurais para os pequenos, médios e grandes centros urbanos. Milhares de atividades remuneradas podem ser geradas nas cidades a partir de uma ideia simples: pessoas contratadas para cuidarem de praças, canteiros, alamedas e jardins públicos. Por que não contratar um zelador por praça? Outros milhares podem ser contratados para se dedicarem ao plantio e cuidado com as árvores nas cidades. Nessa mesma perspectiva, poderiam ser contratadas pessoas como cuidadoras do ar, das águas dos rios, lagos e praias urbanas. As atividades que podem ser geradas com o cuidado da natureza são numerosas. Dessa forma, milhares poderiam ser incluídos e passariam a receber uma renda provendo o seu sustento e, ao mesmo tempo, preservando o ambiente. Cabe destacar que muitos já realizam estas atividades de forma voluntária e gratuita. Se junta, portanto, uma atividade útil para a sociedade com uma renda.
Ainda nesta linha de raciocínio de responder a crise do trabalho associada à crise ecológica, outras milhares de atividades remuneradas poderiam ser criadas a partir de obras de infraestrutura de baixo impacto ambiental e úteis para a sociedade. Este arranjo poderia ser efetivado em parceria com o Poder Público através de um Planejamento Territorial Participativo (6) em que as populações locais – bairros, vilas, distritos, ocupações – apresentariam as suas demandas.
A questão central é como subordinar os interesses do mercado financeiro à sociedade. Esses recursos poderiam dar robustez a uma Renda Mínima Universal (RMU) ou Renda Básica Cidadã (RBC) ou ainda Renda Básica Universal (RBU), que poderia ser utilizada como meio pagador aos cuidadores da natureza
Precisamente conectando trabalho e ecologia e pensando na infraestrutura pública, milhares de ações poderiam ser desenvolvidas gerando trabalho, renda e preservação. Obras como drenagem urbana, pavimentos permeáveis, canais vegetados abertos, reservatórios de acumulação de água, lagoas de infiltração, faixas vegetadas, jardins de chuva, contenção de encostas (taludes, arrimos etc.), saneamento básico, entre outras. Poderiam também ser ampliados investimentos em equipamentos e ações de interesse ambiental como parques em áreas de interesse ambiental, praças e espaços com potencial cênico paisagístico, arborização pública, paisagismo urbano, despoluição de corpos d’água, ecopostos de educação ambiental, museu ecológico etc.
Esta escala de políticas públicas também poderia ser transferida para a esfera doméstica com remuneração. Exemplos: pagar pessoas que criam jardins e hortas em suas casas, pagar pessoas que se dispõem a criar hortos de árvores frutíferas e sombreiras para serem distribuídas gratuitamente, remunerar àqueles que edificam sistemas de captação de águas das chuvas em suas residências, remunerar os que se utilizam de sistemas de uso de energia renováveis em suas casas e escritórios etc.
É importante registrar que as ideias apresentadas anteriormente são muitas vezes questionadas sobre quem financiaria estas políticas ou programas. Embora este não seja o propósito do artigo, há vasta literatura indicando que recursos existem. A questão central é como subordinar os interesses do mercado financeiro à sociedade. Esses recursos poderiam dar robustez a uma Renda Mínima Universal (RMU) ou Renda Básica Cidadã (RBC) ou ainda Renda Básica Universal (RBU), que poderia ser utilizada como meio pagador aos cuidadores da natureza.
A ideia, grosso modo, é de que as pessoas recebam uma renda mensal para prover a vida em suas condições básicas e que muitas dessas atividades sejam direcionadas para o cuidado com os outros e o ambiente, como destacado anteriormente. Essa proposta ganhou espaço sobretudo nos países desenvolvidos ao longo da última década – há várias experiências em curso –, e mesmo nos países mais pobres ou em desenvolvimento se tem versões dessa ideia, como o caso do Bolsa Família brasileiro. Essa renda seria destinada a todos, num valor razoável e capaz de garantir acesso às exigências básicas para uma vida satisfatória. Entre os autores propagadores e defensores da proposta encontram-se Raventós e Casassas, Van Parjis e Vanderborght e Standing. Em comum, os autores argumentam que a proposta de uma renda básica pode se constituir num programa que assegure para todas as pessoas da sociedade, independente de trabalhar ou não, um rendimento de inclusão social, autonomia e independência. A essa garantia mínima de sobrevivência digna sugerimos associá-la aos cuidados com o ambiente.
As ideias aqui apresentadas são alguns insights que pouco arranham a complexidade do problema. Assume-se que são insuficientes e talvez até ineficientes numa sociedade capitalista. Uma vigorosa mudança viria apenas de propostas mais robustas como o Green New Deal ou a partir dos pressupostos e das bases do que tem sugerido Michael Löwy e sua proposta do ecossocialismo. O esforço consistiu em mostrar que trabalho e ecologia não precisam ser dissociados; pelo contrário, é possível criar uma sinergia em que a crise ecológica possa ser mitigada, minorando simultaneamente a crise do trabalho.
A crise ecológica devolve à humanidade a consciência de que os destinos humanos e de Gaia são relacionados e interdependentes. Nesse sentido, as demais crises estão subordinadas a essa crise maior, ou seja, toda e qualquer ação deve, ou deveria, levar em conta a crise ecológica. É a partir do método da complexidade, de que tudo está entrelaçado, que a sociedade do labor não pode ser desconectada do tema da ecologia.
Dada a gravidade da situação, não se pode mais esperar um dia sequer. Como diz Luiz Marques, “vivemos o último decênio em que mudanças estruturais em nossas sociedades podem ainda atenuar significativamente os impactos do processo de colapso socioambiental em curso” (7). Consequentemente, é preciso re(pensar) a sociedade do trabalho e de que a mesma se converta de transformadora para cuidadora do ambiente. Reorganizar o trabalho humano tendo presente o imperativo da crise ecológica é possível, factível, necessário e urgente.
Notas
1 – KOPENAWA, Davi; BRUCE, Albert. A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
2 – WALLACE-WELLS, David. A terra inabitável. Uma história do futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 11.
3 – MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005.
4 – GORZ, A. Misérias do presente, riqueza do possível. São Paulo: Annablume, 2004, p. 9.
5 – KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
6 – A vida dos excluídos importa!: a centralidade das periferias nas eleições de 2020: a rede de inclusão e direito à cidadania [recurso eletrônico] (org.) Ion de Andrade et al. – 2. ed. – Natal: CSPNSC, 2020. Disponível em: file:///C:/Users/cesar/Documents/LIVRO%20-%20TRABALHO%20e%20ECOLOGIA/Rede_PDF_Inclus%C3%A3o%20Social.pdf
7 – MARQUES, Luiz. O decênio decisivo. Propostas para uma política de sobrevivência. São Paulo: Elefante, 2023, p. 21.