Mario Moreira toma posse como presidente da Fiocruz

Mario Moreira toma posse como presidente da Fiocruz

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Foto: Peter Ilicciev

Publicado no Agência Fiocruz Notícias 

O novo presidente da Fiocruz, Mario Moreira, tomou posse nesta sexta-feira (12/5), em uma cerimônia marcada pela emoção e pela ênfase no processo democrático da Fundação, que coroou a eleição, pelos servidores da instituição, de mais um dirigente eleito diretamente. A solenidade contou com a presença da ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, de três ex-ministros (José Gomes Temporão, Arthur Chioro e Agenor Álvares) e do reitor eleito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Medronho. Também estiveram presentes representantes de instituições das áreas de Saúde, Ciência e Tecnologia, de sindicatos, consulados e universidades, e parlamentares, além de secretários do Ministério da Saúde (MS). Moreira disse que o Brasil, depois de passar por difíceis anos recentes, precisa ser reconstruído e que esse processo levará ao fortalecimento da Fiocruz. O presidente aproveitou o momento para anunciar os integrantes da nova equipe da Presidência da Fundação.

“Enfrentamos o desafio que foi manter a Fiocruz em condições adversas, fruto do negacionismo científico e do descaso com a saúde. Mas superamos, com união e responsabilidade em uma Fiocruz unida e altiva. Por isso, hoje vivemos mais que uma posse de dirigente. Vivemos a celebração do projeto democrático desta instituição, que está sempre se renovando e que lhe deu condições de resistir em tempos de crise. A Fundação é uma instituição estratégica do Estado brasileiro e foi desafiada ao extremo na pandemia. Posso dizer que esta instituição politicamente amadureceu ainda mais, ocupou espaços que o governo anterior deixou vagos e assumiu responsabilidades. A Fiocruz foi exuberante”, avaliou Moreira.

A cerimônia começou com a exibição de um vídeo institucional da Fiocruz e em seguida a plateia ouviu o Hino Nacional, tocado por uma flautista. Após o hino, a atriz Sara Hanna leu Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente), escrito pelo poeta Thiago de Mello e dedicado ao jornalista e escritor Carlos Heitor Cony. Em seguida, o ex-coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio, narrou a trajetória profissional e acadêmica do novo presidente. O representante do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Paulo Garrido, fez uma breve intervenção e leu uma mensagem do presidente do órgão saudando a Fiocruz.

A pesquisadora Valdiléa Veloso, representando o Conselho Deliberativo da Fiocruz, disse que a votação expressiva que o novo presidente recebeu na eleição – mais de 90% dos votos – revela uma Fundação unida em torno de seu dirigente máximo. Ela afirmou que no período entre 2016 e 2022 ocorreu um desmonte das instituições de ciência e tecnologia no Brasil, mas que a Fiocruz resistiu.

“A resposta da Fiocruz à emergência sanitária foi espetacular e fruto de muito trabalho e esforço. Tudo isso permitiu que o [Sistem Único de Saúde] SUS passasse a ser mais conhecido e admirado, embora lamentemos profundamente as muitas mortes que poderiam ter sido evitadas não fosse a omissão do governo anterior. No entanto, apesar da boa resposta que demos, é fundamental que haja mais investimentos em pesquisa, já que a intensidade e a diversidade dos desafios de saúde pública são imensos. Os sistemas de saúde precisam estar mais bem preparados para as emergências, pois a Covid-19 não será a última. Temos que investir em vigilância sanitária e no conhecimento e enfrentamento das doenças emergentes e infecciosas”. Valdiléa encerrou sua participação citando o início do poema O outro Brasil que vem aí, do sociólogo e escritor Gilberto Freyre: “Eu ouço as vozes/ eu vejo as cores/ eu sinto os passos/ de outro Brasil que vem aí/ mais tropical/ mais fraternal/ mais brasileiro”.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc), Mychelle Alves, lembrou que Mario Moreira teve atuação ativa no sindicato e participou de diversas campanhas dos trabalhadores. O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, membro do Conselho Consultivo da Fiocruz, disse que a Fundação mostra diariamente que o trabalho árduo dos pesquisadores muda para melhor a vida dos brasileiros. O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Fábio Baccheretti, observou que a Fiocruz trouxe esperança aos brasileiros durante a pandemia e que a instituição é muito mais que as vacinas que produz e salvam tantas vidas.

O secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luis Manuel Rebelo Fernandes, destacou que a Fiocruz é “uma das joias da coroa do sistema nacional de ciência e tecnologia e uma das principais trincheiras de defesa da ciência no país. A pandemia foi vencida, a democracia voltou, a ciência voltou, o Brasil voltou. Mas a batalha contra os negacionismos continua. Fiocruz e MCTI são parceiros na construção de um mesmo ideal”. O secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, comentou que a eleição de Mario Moreira significa esperança. “A esperança de retomarmos a reforma sanitária e a luta por um SUS mais equânime”.

Após as intervenções houve a leitura do termo de posse e em seguida o discurso do novo presidente. Moreira saudou os presentes, os representantes do CD Fiocruz, os trabalhadores e os estudantes e disse sentir “grande orgulho e alegria, além de um imenso senso de responsabilidade”. Ele se emocionou ao recordar o pai, falecido recentemente, e citou filhos, genro, nora, neta, esposa e ex-esposa presentes à cerimônia. Homenageou ainda os ex-presidentes da Fiocruz que compareceram ao evento, Akira Homma, Carlos Morel, Paulo Buss e Paulo Gadelha. E agradeceu à ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, a quem sucedeu na Presidência da Fiocruz, pelo aprendizado nos seis anos do mandato dela em que ele atuou como vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional.

Mario agradeceu à ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, a quem sucedeu na Presidência da Fiocruz, pelo aprendizado nos seis anos do mandato dela em que ele atuou como vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional (foto: Peter Ilicciev)

Moreira disse que o projeto de gestão democrática da Fiocruz gera divergências, mas também muitos consensos, como aqueles explicitados nas diretrizes e teses do Congresso Interno (CI) da Fundação. “As duas últimas edições do Congresso Interno, de 2017 a 2021, são como uma bússola que ajudam bastante na gestão e projetam a Fiocruz para a frente”. Ele afirmou que, diferentemente do que ocorreu em outras posses de presidentes da Fiocruz, agora não será necessária a convocação de um novo CI.

O novo mandatário lembrou que as desigualdades nacionais ficaram ainda mais expostas com a Covid-19. “O Brasil tem menos de 3% da população mundial e teve mais de 11% das mortes na pandemia. Precisamos apurar essas responsabilidades, para que nunca mais se repitam. Não há dúvidas de que sem o SUS o cenário seria ainda muito pior”. O presidente comentou que a pandemia trouxe muitos ensinamentos. “A Fiocruz construiu uma nova base tecnológica e científica a partir da Covid-19. Atingimos um novo padrão de assimilação tecnológica em seis meses, como no caso da vacina contra o coronavírus”.

Ele também citou a importância nacional da Fundação, presente hoje em 11 unidades da Federação e em todas as cinco regiões. E acrescentou que a Fiocruz, mesmo nos estados em que não conta com unidades, se faz presente por meio de colaborações com sistemas estaduais e municipais de Saúde. “Além disso, é importante ampliarmos nossas parcerias com o Butantan, com o Instituto Vital Brazil, com o Tecpar e outros”.

Moreira citou algumas das parcerias internacionais da Fiocruz e afirmou que a instituição também tem que se inserir em ambientes mais maduros, como a participação, por decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS), no desenvolvimento e produção de vacinas com tecnologia de RNA mensageiro. Segundo o presidente, questões como as mudanças climáticas – “um desafio que a Fiocruz tem que encarar em todos os níveis” – e a transição demográfica brasileira precisam estar entre as prioridades dos próximos anos. “A miséria, com a volta do Brasil ao Mapa da Fome, é outro problema que urge respostas nossas”.

Ele listou ainda outras prioridades. Entre elas, a necessidade de recomposição do orçamento da Fiocruz, a partir de entendimentos com o governo federal, o que permitirá recuperar a capacidade de investimento, a realização de concursos públicos e a adequação das instalações prediais da Fundação, em alguns casos bastante defasadas por serem construções de décadas atrás.

Moreira apresentou a equipe da Presidência, formada por Cristiani Vieira Machado (vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação), Marco Krieger (vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde), Maria de Lourdes Aguiar Oliveira (vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas), Hermano Casto (vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde), Juliano Lima (diretor-executivo), Priscila Ferraz (diretora-executiva adjunta), Zélia Profeta (chefe de Gabinete), Liene Wegner (coordenadora da Secretaria da Presidência), Fabiana Damásio (diretora da Fiocruz Brasília), Hilda da Silva Gomes (coordenadora de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas), Marília Santini (coordenadora de Vigilância e Laboratórios de Referência), Pamela Lang (coordenadora de Comunicação Social), Paulo Buss (Centro de Relações Internacionais em Saúde), Paulo Gadelha (Agenda Fiocruz 2030) e Valber Frutuoso (coordenador de Relações Interinstitucionais). Ele também apresentou os assessores especiais da Presidência: Wilson Savino, Carlos Maciel, Rivaldo Venâncio e Rodrigo de Oliveira. A Vice-Presidência de Gestão e Desenvolvimento Institucional passou a se chamar Diretoria-Executiva.

Ao encerrar a solenidade, a ministra Nísia Trindade Lima disse querer celebrar a democracia, no Brasil e na Fiocruz. Ela disse que a posse é um dia de festa e lembrou o poema Rápido e rasteiro, de Chacal: “Vai ter uma festa/ que eu vou dançar/ até o sapato pedir pra parar/ aí eu paro/ tiro o sapato/ e danço o resto da vida”.

“Teremos tempos duros daqui para a frente, teremos percalços. Mas não serão tempos sombrios, já que é tempo de esperança e de saudar a democracia. A ciência está de volta ao Ministério da Saúde e a Fiocruz é fundamental, e será ainda mais, para os desafios sanitários, ambientais, científicos e sociais que enfrentaremos”, sublinhou Nísia.

Ela fez um breve resumo de sua trajetória na Fundação, citou a Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e a Editora Fiocruz. Nísia afirmou que sempre verá a instituição como uma grande escola. A ministra acrescentou ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma mensagem de apoio e agradecimento à Fiocruz pelo papel desempenhado na pandemia.

O novo presidente

Na Fiocruz desde 1994, Mario Moreira é doutor em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Paraná, com estágio doutoral na Universidade de Coimbra, em Portugal, mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e em Gestão de Tecnologias e Inovação pela Universidade de Sussex, no Reino Unido. Ele também é especialista em Gestão Pública pela Fundação Getúlio Vargas. Em 2017, tornou-se vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional da Fiocruz, cargo que passou a ser de diretor-executivo no ano passado. Ele foi eleito em 24 de março pelos servidores públicos ativos da Fundação com 3.405 votos - 91,68% do total de 3.714 votos válidos.