Revista reúne artigos que analisam os impactos da pandemia de Covid-19 no SUS
Com informações do site da Fundação Astrojildo Pereira*
A 58ª edição da revista Política Democrática, editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em Brasília, aborda, em 14 artigos, os impactos da pandemia de Covid-19 sobre o Sistema Único de Saúde. Organizada pelo médico Luiz Santini, ex-diretor do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e pesquisador associado do Centro de Estudos Estratégicos Antonio Ivo de Carvalho (CEE-Fiocruz), a publicação traz análises a partir de diferentes pontos de vista, entre eles, relação público-privado; meio ambiente; saúde global; epidemiologia e tecnologia e inovação. O lançamento virtual será em 23/11, às 18h30, pelo Youtube da fundação, com seminário reunindo Santini e o jornalista Luiz Carlos Azedo, coordenador da edição.
“A pandemia mostrou a capacidade de resiliência do SUS em acionar seu mecanismo de gestão tripartite e fez com que, mesmo com ausência de liderança nacional, o sistema fosse capaz de funcionar e responder adequadamente”, analisa Santini. Segundo o pesquisador, o SUS sobrepôs-se a tentativas de desqualificação que visavam a favorecimentos do setor privado. Ele acredita que, se não fosse o sistema público, o Brasil teria atingido um número de mortes por Covid-19 bem maior do que as 611 mil registradas.
Em seu artigo, o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão destaca que “o discurso da falsa contradição entre preservar a vida e salvar a economia teve enorme peso”. Ele criticou o negacionismo do governo, que “transforma falsas verdades em mitologias, e as pessoas passam a acreditar em um raciocínio que torna a realidade superficial, esvazia-a de suas contradições e simplifica-a”.
Temporão observa, ainda, que é preciso fortalecer o SUS, discutindo sua sustentabilidade econômica, com a revogação da Emenda 95, e sua sustentabilidade política. “É preciso construir a consciência política de que um sistema universal é o melhor caminho para o fortalecimento da democracia, a redução das desigualdades, a justiça social e a proteção da saúde de todos sem distinção”, propõe o ex-ministro.
Já médica Ligia Bahia, professora associada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutora em Saúde Pública pela Fiocruz, afirma em seu texto que, na prática, as melhores condições de vida se encontram associadas a sistemas de saúde abrangentes e acessíveis.
“As teses sobre alívio, desoneração do SUS baseiam e retificam a intuição sobre acesso. Se mais pessoas deixam de usar o SUS, sobram recursos para atender melhor os que precisam e não podem pagar. Independentemente da falácia do pagamento (como se os impostos não existissem ou só fossem considerados para solicitar isenção e redução de alíquotas), as empresas de planos deixam de lado a importância dos preços”, analisa Ligia.
A publicação também aponta “legados positivos” da Covid-19, como as lições que poderão ser usadas para melhorar o atendimento à população. É o caso do uso da inteligência artificial (IA) na incorporação de procedimentos cotidianos do setor, como aborda a professora do Programa de Tecnologias Inteligentes e Design Digital da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP) Dora Kaufman.
“Independentemente da Covid-19, o ecossistema de saúde defronta-se com a disrupção de práticas tradicionais, entre outros fatores, pelas tecnologias digitais – apps, dispositivos móveis, IA, telemedicina, blockchain – que estão transformando o acesso aos serviços de saúde, a relação médico-paciente e a relação do paciente com a própria saúde, impactando, igualmente, setores periféricos como o de seguros”, escreve, em seu artigo.
De acordo com Dora, “como tecnologia de propósito geral, a inteligência artificial tem impulsionado essa transformação” e “o reconhecimento de imagem, uma das implementações de IA mais bem sucedidas, tem gerado resultados mais assertivos em diagnósticos dependentes de imagem, como radiologia, patologia e dermatologia”, acrescenta.
Veja a relação de artigos publicados na revista Impactos da pandemia no SUS?
- O lado oculto de uma pandemia: a terceira onda ou o paciente invisível (Eugenio Vilaça Mendes)
- Covid-19 no Brasil: entre mitologias e tragédias (José Gomes Temporão)
- Público e privado no sistema de saúde no Brasil: o fio da navalha das relações entre Estado e mercado (Lígia Bahia)
- Governança no SUS (Ana Maria Malik)
- Pandemia, meio ambiente e autoritarismos: interseções para pensar o mundo pós-covid-19 (Hilton P. Silva)
- O vírus é um animal político (e nós estamos preparados para negociar?) (Nelson Vaz, Luiz Antonio Botelho Andrade e Beto Vianna)
- Na pandemia: da imunologia subteorizada à epidemiologia desprezada (Nelson Vaz e Naomar Almeida Filho)
- Quo vadis, multilateralismo? O enfrentamento global da pandemia em questão (Paulo M. Buss, Santiago Alcázar e Luiz Augusto Galvão)
- Covid-19 e soberania sanitária na América do Sul: a oportunidade perdida (Mariana Faria)
- Inovação, tecnologias e a força de trabalho em saúde no contexto da pandemia por covid-19 (Mário Dal Poz e Adriana Cavalcanti de Aguiar)
- A Inteligência Artificial no setor de saúde: da epidemia do coronavírus aos procedimentos cotidianos (Dora Kaufman)
- Telemedicina de logística na organização da cadeia da saúde: Medicina Conectada 5.0 (Chao Lung Wen)
- Reativando o futuro: considerações sobre o horizonte da Reforma Psiquiátrica no Brasil (Benilton Bezerra Jr.)
- Os crimes de responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro na pandemia da covid-19 (Daniel de Araujo Dourado, Eloísa Machado de Almeida, Juliana Vieira dos Santos e Rafael Mafei Rabelo Queiroz)
* Texto original de Cleomar Almeida, da equipe da FAP, publicado em 17/11/2021.