Carlos Machado: ‘Precisamos estar preparados. Eventos extremos vêm se tornando mais frequentes e mais graves'
“Não é possível termos, após cada evento extremo como o que estamos vivenciando e assistindo no Rio Grande do Sul, o mesmo processo de reconstrução das vidas, de reabilitação dos serviços e de recuperação da saúde”, pontua o pesquisador do Observatório de Clima e Saúde do Icict/Fiocruz, Carlos Machado, em comentário ao CEE-Podcast.
O pesquisador, que coordena o Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde da Fiocruz (Cepedes), chama atenção para a importância da adaptação e preparação da sociedade para o enfrentamento de desastres futuros, de modo a reduzir, no curto, médio e longo prazo, impactos desses eventos extremos.
Conforme observa Carlos Machado, o último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) mostra de forma muito clara que quem nasceu nos anos 40, 60, 80 vivenciou um mundo com temperatura média muito mais baixa do que quem nasceu em 2000, 2010, 2020, e quem nascerá em 2050 ou 2100. “Temos que pensar em uma perspectiva de longo prazo, com melhoria das condições de vida, habitação, saneamento, e, ao mesmo tempo, um processo de reconstrução na perspectiva de adaptação a eventos extremos”, alerta.
Para o pesquisador, a preparação para enfrentar esses eventos é fundamental, e abrange governos, sociedade e o setor Saúde. “É preciso uma combinação de processos e de políticas intersetoriais, um trabalho conjunto, para possamos que enfrentar situações de seca, estiagem, chuvas, ondas de frio, de calor, ciclones, e tantos outros eventos relacionados às mudanças climáticas”, aponta.
Carlos aponta, ainda, os desafios relacionados aos planos de preparação e resposta e de contingência, no que diz respeito a reorganizar o uso e ocupação do solo, protegendo as populações para que não ocupem encostas ou margem de rios, o que as torna mais suscetíveis e vulneráveis a esses eventos. “Precisamos reorganizar políticas de habitação e pensar medidas estruturais, como a proteção de infraestruturas como pontes, rede de energia e telecomunicações, escolas, e serviços de saúde”, aponta, ainda.
O pesquisador enfatiza também, no enfrentamento às mudanças climáticas, iniciativas como a recomposição florestal, o impedimento do desmatamento e das queimadas em longa escala e a melhoria dos transportes públicos nas cidades, de modo a se evitar uma grande quantidade de veículos emitindo poluentes atmosféricos que contribuem para o aquecimento global. “É preciso um esforço em nível global, dos diferentes países, na adoção de tecnologias mais limpas”, propõe.