Vacinas sim! Fiocruz assina declaração internacional pela erradicação da pólio; Abrasco e SBPC divulgam nota em defesa da vacinação
A participação da Fiocruz na campanha internacional pela erradicação da poliomielite – com vídeo da presidente da instituição, Nísia Trindade Lima divulgado em 11/10/2022 –, e nota assinada pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de 7/10/2022, marcam alguns dos esforços recentes que vêm sendo empreendidos na defesa do acesso à vacinação contra as mais diferentes doenças, em um cenário de queda vacinal não só no país como em nível global.
Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde em julho de 2022 apontaram que cerca de 25 milhões de crianças no mundo não receberam as três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche, chegando-se a uma taxa de cobertura de 81%. No caso do sarampo, a cobertura de primeira dose caiu para 81% em 2021, o menor índice desde 2008: cerca de 24,7 milhões de crianças perderam a primeira dose de sarampo, 5,3 milhões a mais do que em 2019.
Os Estados Unidos registraram, em 2022, seu primeiro caso de pólio desde 2013, que deixou paralisado um jovem adulto não vacinado. Em Londres, cerca de 1 milhão de crianças receberão dose extra da vacina contra a poliomielite, após a descoberta de poliovírus no esgoto da capital britânica.
“O surgimento de novos casos de poliomielite pelo mundo mostra algo que vem sendo alertado pela comunidade científica: o risco de retorno da doença em países que a haviam eliminado, entre eles o Brasil”, alerta no vídeo Nísia Trindade Lima, uma das signatárias e colíder da Declaração Científica de 2022 sobre a Pólio: a necessidade urgente de alcançar um mundo livre da pólio (2022 Scientific Declaration on Polio: The Urgent Need to Achieve a Polio-Free World), lançada em setembro, voltada à mobilização digital internacional pela vacinação e erradicação da doença até 2026. “O caminho é a vacinação, que permite evitar o retorno da doença em países que a eliminaram e atuar naqueles com grandes níveis de transmissão”, diz Nísia, lembrando que a declaração está aberta a assinaturas e pode ser acessada no site oficial (em inglês).
Líderes de associações médicas e universidades, pediatras, epidemiologistas e profissionais de saúde, entre outros profissionais, de Camarões, China, Estados Unidos, Índia, Moçambique, Nigéria e Paquistão, estão ao lado de Nísia e da Fiocruz nesse esforço.
Como observa Nísia, nas últimas três décadas, os casos de poliomielite foram reduzidos em 99,9%, e poucas regiões no mundo têm hoje bolsões de transmissão da pólio selvagem, sendo necessário, portanto, atuar contra a doença nessas regiões e evitar seu retorno nas demais.
No documento, os signatários reforçam que a erradicação da pólio é algo “viável, urgente e necessário” e declaram que: líderes de países endêmicos devem permanecer totalmente comprometidos e responsáveis para interromper a transmissão; líderes dos países afetados devem priorizar resposta urgente e de alta qualidade ao surto; parceiros da Global Polio Eradication Initiative (GPEI) – iniciativa liderada pela OMS, levada à frente desde 1988 – se comprometem a fortalecer a integração na vacinação contra a poliomielite, imunização de rotina e outras iniciativas de saúde em comunidades afetadas pela doença; parceiros e doadores são necessários para financiar integralmente o Plano Estratégico GPEI 2022-2026; a sociedade civil e os líderes comunitários devem aprimorar seus compromissos de advocacy no sentido de apoiar os esforços para acabar com a pólio.
A Fiocruz também leva à frente a campanha de Reconquista das Altas Coberturas Vacinais, por meio de Bio-Manguinhos, e integra a campanha Vacina Mais, coordenada pela Opas/OMS, Conselho Nacional de Saúde (CNS), Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
Já a nota da Abrasco e da SBPC destaca a história de sucesso do Brasil com seu Programa Nacional de Imunizações (PNI) e alerta para as “campanhas contra a vacinação – e, portanto, contra a vida de adultos e crianças” levadas à frente nos últimos anos, fazendo com que doenças erradicadas do país possam voltar a acometer os brasileiros, comprometendo vidas e sobrecarregando o sistema de saúde. Falta de dinheiro para o transporte aos postos de vacinação, “bombardeio de informações falsas estimulando suspeitas sobre a eficácia e segurança das vacinas” e eliminação do quesito obrigatoriedade de vacinação nos programas de transferência de renda são outras causas apontadas no texto para a redução da cobertura vacinal no Brasil.
“A SBPC e a Abrasco reafirmam que vacinas são um dos produtos mais efetivos desenvolvidos pela ciência, que desde sua descoberta contribuíram para melhorar a expectativa de vida da população e reduzir a mortalidade infantil no mundo todo”, diz a nota.
Leia mais sobre a participação da Fiocruz na campanha internacional pela erradicação da poliomielite
Acesse o vídeo com Nísia Trindade Lima