Micróbios resistentes a medicamentos, uma ameaça à saúde global
A partir de 2050, 10 milhões de mortes poderão ser causadas anualmente por conta de doenças que não conseguirão ser combatidas por medicamentos, devido à resistência antimicrobiana. Relatório produzido por agências das Nações Unidas, publicado em 1/5/2019, aponta o problema como uma crise global que ameaça um século de progressos conquistados na saúde, bem como o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.
Sob o título Não há tempo para esperar, o texto aponta que níveis alarmantes de resistência foram relatados em países de todas as faixas de renda, o que acarretará “impacto desastroso” dentro de uma geração. Os agentes antimicrobianos (incluindo antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiprotozoários) são essenciais no combate de doenças em seres humanos, animais e plantas terrestres e aquáticos, mas estão se tornando ineficazes. De acordo com o relatório, as doenças resistentes a medicamentos já causam pelo menos 700 mil mortes em todo o mundo, sendo 230 mil só por tuberculose multirresistente. Esse número que pode chegar a 10 milhões de mortes em todo o mundo até 2050, se nenhuma medida for tomada.
O uso indevido e o uso excessivo de antimicrobianos estão acelerando o desenvolvimento e disseminação da resistência, destaca o estudo. Fatores como acesso inadequado a água potável, saneamento e higiene em instalações de saúde, áreas rurais, escolas, residências e ambientes comunitários; dificuldade de acesso equitativo aos antimicrobianos, vacinas e diagnósticos acessíveis e de qualidade garantida; e sistemas de manejo de resíduos inadequados, entre outros, estão aumentando a carga de doenças infecciosas em animais e humanos e contribuindo para o surgimento e disseminação de patógenos resistentes a medicamentos.
Doenças resistentes a medicamentos já causam pelo menos 700 mil mortes em todo o mundo, sendo 230 mil por tuberculose multirresistente. Esse número que pode chegar a 10 milhões de mortes em todo o mundo até 2050, se nenhuma medida for tomada.
O relatório destaca também os prejuízos à economia em um cenário e descontrole da resistência antimicrobiana, que poderiam ser comparados ao choque que o mundo experimentou durante a crise econômica global de 2008, como resultado de um aumento dramático de gastos com cuidados à saúde.
Os países de renda mais alta poderiam arcar, hoje, com um pacote de intervenções simples para lidar com a resistência antimicrobiana. Nos países de renda baixa, investimentos adicionais, mas ainda relativamente modestos, são urgentemente necessários. Um adiamento nessas providências pode fazer o mundo pagar muito mais caro no futuro “para lidar com o impacto desastroso da resistência antimicrobiana descontrolada”.
Uma vez que os impulsionadores da resistência antimicrobiana são nos seres humanos, animais, plantas, alimentos e meio ambiente, o relatório recomenda uma resposta sustentada de Saúde Única (isto é, pautada pela união indissociável entre a saúde animal, humana e ambiental) como essencial para engajar e unir todas as partes interessadas em torno de uma visão e metas compartilhadas.
De acordo com o estudo, ainda, os Planos de Ação Nacionais de Resistência Antimicrobiana estão no centro de uma resposta multissetorial ao problema, e restrições de financiamento e capacidade em muitos países de implementá-los precisam ser urgentemente resolvidas.
As recomendações incluem, ainda, o fortalecimento da prevenção e controle de infecções, com garantia de acesso a água limpa, saneamento e higiene em instalações de saúde, fazendas, escolas, lares e comunidades; a imediata interrupção do uso dos antimicrobianos na Lista da OMS de agentes patogênicos prioritários resistentes aos antibióticos; investimentos e incentivos para estimular a inovação em medicamentos antimicrobianos; e garantir acesso equitativo e acessível a agentes antimicrobianos de qualidade e seu uso responsável e sustentável.
“Os desafios da resistência antimicrobiana são complexos e multifacetados, mas não são intransponíveis”, registra o estudo, defendendo a implementação das recomendações apresentadas, que podem a salvar milhões de vidas.