Magda Lúcio: ‘O pacto dos últimos 30 anos acabou’
“Estamos diante de algo da mesma envergadura que nos levou à Primeira Guerra Mundial. Seria um exagero dizer isso? Vamos discutir”, propôs a professora Magda de Lima Lúcio, do Departamento de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de Brasília (UnB), em sua apresentação na mesa Na mesa Políticas de austeridade e impactos no desenvolvimento, a primeira do seminário Impactos Sociais das Políticas de Austeridade realizado de 3 a 5 de dezembro de 2018, na Escola de Governo da Fiocruz, em Brasília.
De acordo com Magda, o pacto formulado na sociedade com vistas à Constituinte, trinta anos atrás acabou. “Se insistirmos nele, ou se considerarmos que é possível ressuscitá-lo ou fazer um remendo, podemos estar perdendo dias preciosos de construção de algo passível de orientar grandes projetos”, analisou, indagando se estamos utilizando as ferramentas teóricas e metodológicas adequadas para estudar a conjuntura atual, ou se são necessárias novas abordagens. “Saímos de presidencialismo de coalizão para o presidencialismo de cooptação e vem alguma coisa agora que ainda não sabemos o que é. Vamos ter que nos debruçar sobre isso de maneira multidisciplinar, com calma, aceitando as divergências”.
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A professora questionou, ainda, se o tema da desigualdade está de fato no centro do debate, ou se a discussão vem sendo travada a partir de categorias liberais. “Deixamos de discutir desigualdade para discutir igualdade de oportunidade. Isso muda o registro do discurso; vamos para o discurso liberal”, observou. Para ela, as desigualdades não parecem ser um conceito estruturante do discursos atuais contra-hegemônicos. “Não estamos diminuindo, mas criando desigualdade onde havia alto igualitarismo”, considerou. “Estamos tentando, em outra arena, utilizar os mesmos instrumentos teóricos e metodológicos para enfrentar discussões que não estão dispostos a fazer”.
Para ilustrar a “mudança desabalada” que identifica nos dias atuais, Magda trouxe o trecho de um artigo publicado em 2013 que tratava da de “uma nova ordem de ingresso de milhões de brasileiros na cena pública, com novas demandas sociais postas”, algo que já não se identifica em 2018. “Em pouco tempo, tivemos mudanças extraordinárias na promoção de direitos sociais, reconhecimento das diferenças, implementação de políticas”.
Magda apresentou uma linha do tempo, destacando oas crises econômicas de 2001 e 2008; o ano de 2013, que considerou como o início das manifestações pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff; o movimento dos secundaristas, em 2014, quando também se realizou a Copa do Mundo, e o país assistiu à sua maior autoridade ser “achincalhada, para o mundo todo ver”, sem “uma reação à altura”; o impeachment, em 2016; e a manifestação das mulheres nas ruas, em 2018. "Tivemos a maior organização midiática e tecnológica que a história já viu dizimando o sucesso do movimento. Uma desconstrução de toda aquela mobilização. O grupo de 3,8 milhões de mulheres manifestantes teve sua identidade raqueada”, lembrou. “Não tínhamos contra-inteligência para ver e pensar sobre isso?”, indagou, mais uma vez. “São questões para pensarmos profundamente.
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