Futuro da atenção ao câncer: estudo de foresight do CEE-Fiocruz aponta para revolução no diagnóstico e tratamento
O Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz) apresentou no final de agosto/2018, durante o III Simpósio Fio-Câncer, os resultados da pesquisa O futuro da atenção ao câncer (2017-2047), web survey de abrangência mundial com mais de mil respondentes, orientada pela abordagem de Technology Foresight. Realizada pelo Grupo de Estudos de Futuro do Centro, a pesquisa apontou a probabilidade de sucesso de nove novas tecnologias que, na avaliação destes especialistas, poderão representar uma revolução no diagnóstico e tratamento da doença nos próximos trinta anos.
Terapias celulares, vacinas, biópsia líquida, imagem molecular, ferramentas de edição gênica, sistemas de tumor delivery, terapêutica de RNA, tratamento por vírus oncolíticos e terapêuticas relacionadas a anticorpos serão tecnologias com grandes perspectivas de aplicação na atenção ao câncer no futuro. “O que se espera é a possibilidade de tornar o câncer cada vez mais uma doença crônica, ou facilitar o diagnóstico e tratamento”, diz o pesquisador Bernardo Cabral, um dos autores da pesquisa, assinada também por Maria da Graça Derengowski Fonseca e Fabio Batista Mota.
Uma das tecnologias capazes de antecipar o diagnóstico de câncer é a de imagem molecular. “É um exame de imagem que permite que os processos biológicos que acontecem no organismo sejam vistos em nível celular e molecular”, explica Bernardo. Já a biópsia líquida retira amostra do sangue humano para identificar a presença ou não de células cancerígenas, conferindo mais agilidade na investigação e no tratamento da doença. O tratamento por vírus oncolíticos, por sua vez, adapta vírus para que combatam células cancerosas.
Os estudos de futuro que vêm sendo realizados pelo CEE-Fiocruz buscam gerar informação qualificada para orientar a Fiocruz em suas tomadas de decisão. “A Fiocruz é uma das principais instituições pesquisa em saúde na América Latina e pode incorporar competências àquelas que já possui, para se aproximar dessas novas tecnologias e poder desenvolvê-las no futuro”, observa Bernardo. Ele destaca ainda que, das nove tecnologias avaliadas na pesquisa, as terapêuticas relacionadas a anticorpos é vista pelos especialistas como a tecnologia que apresenta maior grau de probabilidade de aplicação e que a Fiocruz já está nesse caminho. “A Fiocruz já vem se envolvendo com a produção de tecnologias de anticorpos monoclonais, um tipo de medicamento biotecnológico utilizado para o tratamento do câncer”, diz. Outras tecnologias, aponta ainda, podem abrir importantes oportunidades de atuação da instituição, como biópsia líquida e terapias celulares.
A apresentação da pesquisa O futuro da atenção ao câncer (2017-2037) mobilizou a plateia do III Simpósio Fio-Câncer, formada por pesquisadores de áreas que vão da pesquisa básica à epidemiologia, que se surpreendeu positivamente, não só com os resultados, mas com a possibilidade de especialistas terem acesso à avaliação de outros colegas, quanto ao futuro da doença. “É uma exposição à qual não estavam acostumados”, analisa Bernardo.
A Fio-Câncer é uma rede de pesquisa translacional da Fiocruz, que busca promover a articulação entre as áreas biomédica, clínica, desenvolvimento tecnológico e saúde coletiva, em torno de problemas de saúde pública. “A ideia é institucionalizar cada vez mais o trabalho que vem sendo realizado no Grupo de Pesquisa sobre Estudos de Futuro do CEE-Fiocruz, de modo a potencializar o alcance dos resultados encontrados e seu aproveitamento pela Fiocruz”, diz Bernardo.