Desigualdades Sociais desafiam o controle das pandemias

Desigualdades Sociais desafiam o controle das pandemias

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Imagem Pixabay

 

Os pesquisadores da Fiocruz Gustavo Matta, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares sobre Emergências em Saúde Pública (Niesp) no CEE, e Nísia Trindade Lima, presidente da instituição, fazem uma reflexão sobre os desafios globais para o controle das epidemias em artigo publicado na revista The Lancet, no dia 17 de dezembro. 

No texto Louis Pasteur, Covid-19 e desafios da pandemia, assinado também por Tamara Giles-Vernick e Phaik Yeong Cheah, eles destacam que “as respostas à pandemia têm sido dificultadas pelo fraco engajamento público com a ciência e a saúde pública”, considerando o engajamento público como um intercâmbio de perspectivas, opiniões e ideias entre autoridades, pesquisadores e outros interesses multissetoriais.

Os autores lembram que a pandemia de Covid-19 e as respostas a ela mostraram que as desigualdades sociais e de saúde contribuíram para o aumento da mortalidade e morbidade em pessoas com doenças crônicas e redução de renda. Além disso, evidenciaram a dificuldade de algumas populações, como as que vivem em ambientes de baixa renda e aquelas que fazem parte de grupos racialmente e etnicamente minoritários, geracionais e de gênero, em “aderir às medidas de controle da pandemia e obter acesso às vacinas contra a Covid-1”, assim como em suportar os encargos econômicos e sociais dessas medidas.

O artigo aponta que um indicador de fraco engajamento público é “a chamada infodemia COVID-19 – uma circulação excessiva de má informação (acidental ou proposital) sobre a pandemia de COVID-19, incluindo suas origens, tratamentos e medidas de controle”. E refere-se, ainda, a resultados de pesquisas realizadas por cientistas sociais entre 2020 e 2022, mostrando que grupos sociais e comunidades que experimentam exclusões históricas e desigualdades estruturais podem ser mais propensos a abraçar a desinformação.

Assim, os autores avaliam que “o fraco engajamento público em ciência e saúde pública e sérias iniquidades em saúde estão interligados, e o modelo de saúde pública de Pasteur, apoiado por alianças de ciência, Estado e interesses econômicos, não pode responder a esses desafios sociais”.

A gestão de pandemias, sublinham, nunca é apenas sobre vigilância de doenças, diagnósticos, vacinas e tratamentos. De acordo com os pesquisadores, mesmo que os legados de microbiologia e prevenção de doenças de Pasteur por meio de medidas higiênicas e vacinação tenham sido cruciais durante a pandemia de COVID-19, é preciso ir além desses esforços. A gestão e a preparação para pandemias devem considerar as desigualdades globais, regionais e locais que impediram todas as populações de garantir saúde e bem-estar. Um primeiro avanço, nesse sentido, “implicaria em um diálogo científico e de saúde pública reforçado e a consulta das populações locais para dar conta das suas experiências e prioridades”.

 

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