Desigualdade S.A. – Relatório da Oxfan aponta nova era de poder dos super-ricos e que mundo pode ter seu primeiro trilionário em dez anos
Estudo mostra que mantendo-se as atuais condições, o mundo pode ter o seu primeiro trilionário em dez anos, enquanto a pobreza só deverá ser erradicada em 230 anos
Relatório da organização Oxfam Brasil, divulgado em 15/1/2024, apresenta um retrato das desigualdades que caracterizam o cenário global e aponta que o mundo parece atravessar “uma nova década de divisão”, com pandemia, guerras, crise no custo de vida e colapso climático. O documento, que tem como título Desigualdade S.A. – Como o poder corporativo divide nosso mundo e a necessidade de uma nova era de ação pública, alerta para o perigo de que a desigualdade extrema, entre os poucos mais ricos e a grande maioria da população global, se torne o novo normal. De acordo com o texto, ampliou-se “o fosso não tanto entre os ricos e as pessoas que vivem na pobreza, mas entre uns poucos membros de oligarquias e a grande maioria”.
O estudo revela como os super-ricos do mundo criaram “uma nova era de poder corporativo e monopolista”, que garante lucros exorbitantes e também controle sobre as economias dos países. E como essas corporações e seus bilionários alimentam as desigualdades “pressionando trabalhadores, negando direitos, evitando o pagamento de impostos, privatizando o Estado e destruindo o planeta”.
Destaca-se também entre os dados reunidos no relatório que a riqueza dos cinco homens mais ricos do mundo aumentou 114% entre 2020 e 2023, saindo de 405 bilhões de dólares para 869 bilhões de dólares e que, mantendo-se as atuais condições, o mundo pode ter o seu primeiro trilionário em dez anos, enquanto a pobreza só deverá ser erradicada em 230 anos. Se, de um lado, desde 2020, os cinco homens mais ricos duplicaram suas fortunas, de outro, quase cinco bilhões de pessoas em todo o planeta ficaram mais pobres no mesmo período. “Privação e fome são uma realidade cotidiana para muita gente”.
Juntas, as cinco maiores empresas do planeta têm um valor maior do que o PIB combinado de todas as economias da África, da América Latina e do Caribe, ainda de acordo com o documento. “Uma imensa concentração do poder das grandes empresas e monopólios em nível global está exacerbando a desigualdade em toda a economia”, diz o estudo.
Essa cenário se verifica também ao se observar que sete em cada dez das maiores empresas do mundo têm bilionários como CEOs ou principais acionistas. “Ao pressionar os trabalhadores, evitar o pagamento de impostos, privatizar o Estado e contribuir para o colapso climático, essas empresas estão impulsionando a desigualdade e agindo a serviço da entrega de cada vez mais patrimônio a seus donos, já ricos”, pondera o relatório, destacando que “uma nova aristocracia econômica está surgindo, enquanto bilhões de pessoas penam para sobreviver em meio à pobreza, fome, guerras e austeridade econômica”. Apenas 0,4% das mais de 1,6 mil maiores e mais influentes empresas do mundo comprometeram-se publicamente com o pagamento de salários dignos a seus trabalhadores e apoiam isso em suas cadeias de valor.
As desigualdades apresentam-se também no que diz respeito a gênero e raça e interferem no cenário ambiental. Conforme mostra o relatório, os homens têm globalmente US$ 105 trilhões a mais em patrimônio do que as mulheres, o equivalente a mais de quatro vezes a economia dos Estados Unidos da América. Levaria 1,2 mil anos para uma trabalhadora do setor de saúde, por exemplo, ganhar o que um CEO de uma das cem maiores empresas da lista da revista Fortune ganha em média por ano.
Entre os estadunidenses, por exemplo, o patrimônio de uma família negra comum é apenas 15,8% do patrimônio de uma família branca comum. Além disso, o 1% mais rico do mundo detém 43% de todos oferece os ativos financeiros globais e, ao mesmo tempo, emite tanta poluição de carbono quanto os dois terços mais pobres da humanidade.
No Brasil, em média, o rendimento de pessoas brancas é mais de 70% superior ao rendimento de pessoas negras. Quatro dos cinco bilionários brasileiros mais ricos aumentaram em 51% sua riqueza desde 2020; ao mesmo tempo, 129 milhões de brasileiros ficaram mais pobres.
Caminhos
O relatório da Oxfam faz alertas e aponta alguns caminhos, considerando que a década de 2020 oportunidades para que líderes façam com que “o nosso mundo avance em uma direção ousada, nova e mais justa”, o que ainda não aconteceu.
De acordo com o estudo, um mundo mais justo e menos desigual é possível, se os governos “redesenharem os mercados para serem mais livres do controle de bilionários”, quebrando-se monopólios, dando-se mais poder aos trabalhadores, tributando-se as corporações e os super-ricos e investindo-se em uma nova era de bens e serviços públicos. “O poder público precisa intervir na máquina corporativa de produzir desigualdade”, defende o texto.
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