Casa Tuxi, a pousada da inclusão e do acolhimento, em pauta no terceiro episódio do Enloucast
O terceiro episódio do Enloucast, o podcast fora da caixinha, tem como convidada a fotógrafa e atriz Fernanda Tuxi, dona da Casa Tuxi, uma pousada, instalada em um sobrado no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, que há oito anos emprega pessoas em tratamento psiquiátrico e em situação de vulnerabilidade. “Essa é minha grande missão, e surgiu justamente como uma maneira de me manter viva”, destaca Fernanda que também é paciente psiquiátrica, ao lembrar que, mesmo diante das dificuldades, sem entender suas patologias, órfã de pai aos 16 anos e vivendo longe da mãe, se deparou com a necessidade de se sustentar e, após atuar em frentes diversas, abriu a Casa Tuxi.
Em entrevista às apresentadoras Camila Motta e Jéssica Marques, da equipe do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/Ensp/Fiocruz), Fernanda explica que, por ser diagnosticada com duas patologias, borderline e transtorno afetivo bipolar, o estigma social gerado com internações pelas quais passou dificultou sua inserção no mercado de trabalho. “A Casa Tuxi nasceu do meu grande desejo de mostrar para o mundo inteiro que o louco pode fazer tudo que quiser, desde que acredite na loucura dele”.
Conforme salienta, no entanto, o projeto surge como uma forma não somente de ela se ajudar, como de ajudar aqueles que passam pelas mesmas dificuldades. Seu grande combustível, relata, foi a perda da avó, que também sofria com transtorno psicológico e foi rejeitada e incompreendida, acabando por tirar a própria vida – situação também vivida por Fernanda. “Jurei para ela que iria ajudar as pessoas que tinham a mesma questão que nós duas e que, com toda e qualquer pessoa que cruzasse a minha vida, eu tentaria fazer a diferença. É o que tento fazer, hoje, com a Casa Tuxi, um sonho que me faz levantar da cama todos os dias por todos eles, que são hoje a minha família”, diz, referindo-se à equipe de funcionários da Casa.
Os primeiros trabalhadores da Casa Tuxi entraram em contato com Fernanda em um dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) da Prefeitura – voltados a pessoas com sofrimento mental de moderado a grave, com foco na reintegração social, autonomia e geração de renda – que ela também frequentou. “Ao longo do tempo, as pessoas foram tendo conhecimento do funcionamento do lugar e foram chegando diretamente, com o laudo na mão, pedindo emprego”, conta.
A Casa, destaca Fernanda, prioriza o acolhimento de cada funcionário que, diante de uma crise, recebe o apoio dos demais, sendo acudido e recebendo sua medicação – todos sabem qual medicamento cada um deve tomar. “Se meu funcionário tem uma crise, alguém trabalha no lugar dele; ele não trabalha em crise, assim como não precisa esconder que está em crise”, destaca Fernanda, completando que a melhor medicação é amor e carinho. “Se amor e carinho não funcionar é só aumentar a dose. Com certeza, vai funcionar”, afirma.
A Casa Tuxi, além de aberta ao público para hospedagem, em suas 14 suítes e restaurante próprio, é também procurada para a realização de festas e cerimônias. O sucesso com a inserção social alcançada por Fernanda tem suplantado o preconceito e as dificuldades, e o projeto tem funcionado com sucesso nesses oito anos. “Hoje temos na Casa Tuxi vinte funcionários entre folguistas e equipe fixa. Geramos emprego para maluco e dá certo!”.
Fernanda fala com orgulho do recebimento do prêmio Anna Nery da Saúde, em 2022, pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), em reconhecimento ao seu ativismo na luta antimanicomial e na defesa das pessoas neurodivergentes ou com algum tipo de patologia psiquiátrica, que assim como ela, usuária dos Caps, sofrem com o preconceito e a exclusão no mercado de trabalho.
Sobre a série Enloucast
Enloucast, o podcast fora da caixinha, é uma iniciativa do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/Ensp/Fiocruz), em parceria com o Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz e o CEE Podcast, e teve seu lançamento em 9/11/2023, no 7º Seminário Internacional Epidemia das Drogas Psiquiátricas, com o objetivo de ampliar o debate sobre Saúde Mental para além dos muros da Academia.
O perfil dos entrevistados inclui usuários, ex-usuários, sobreviventes (expressão utilizada para identificar pessoas que conseguiram superar o modelo psiquiátrico de tratamento) e profissionais e pesquisadores de saúde mental, que desenvolvem práticas inovadoras. A ideia é trazer para a pauta a visão de uma saúde mental mais ampla, humanizada, para além da ausência de doença, da ideia de transtorno e que ultrapasse o caminho da medicalização.
As entrevistas do Enloucast podem ser acessadas na plataforma Spotify, no canal do Laps no Youtube e no blog do CEE-Fiocruz.
Assista aos episódios da série Enloucast
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